Mudança de tempo
Ângelo Ribau
- Ó diabo. Amanhã vamos ter nordeste...
- Como é que sabe? Perguntou o Toino.
- Vês aquelas “pombinhas” acolá por cima da serra? E indicou pequenas nuvens brancas que se mantinham sobre a serra. É sinal de nordeste amanhã.
- …!
- Amanhã verás que eu tenho razão.
E partiram para a bateira de regresso a casa.
Novo dia, repetição do serviço do dia anterior. Rer, acarretar o sal para o monte que ia crescendo no malhadal, amanhar a marinha…
Só que neste dia o sal já era mais que no anterior. Na verdade o marnoto sabia o que dizia. Veio nordeste, vento quente, que aumentou a produção de sal. Neste dia cada meio produziu mais cerca de uma canastra de sal. Estávamos no mês de Junho, os dias eram mais compridos, havia mais tempo de sol, a produção subia e o trabalho aumentava. Felizmente que ainda não havia feridas nos pés. Quando elas chegassem, com a temperatura da moira, seria um sacrifício enorme. Só quem já sentiu essas dores, pode avaliá-las. É de rilhar os dentes…
Quando se anda muito tempo com os pés dentro da moira e eles estão feridos, os “poços” chegam a atingir o osso…
Mais um dia, quase igual a tantos outros. Só que este mais trabalhoso. E, se o tempo continuar com nordeste, a produção de sal aumentará e o trabalho também, já que há aumento de produção, mas não aumento de pessoal para acompanhar o da produção!
Não tardarão muitos dias que, de tanto caminhar por machos e pranchas, as solas dos pés comecem a ficar desgastadas, comecem a aparecer “pintassilgos”, pequenas manchas vermelhas provocadas pelo desgaste das solas. Então, quando se anda a acarretar o sal e uma pedra maior é pisada pela sola do pé naquele local, atinge a “carne viva”. O Toino ainda rapaz novo, mas que tinha de alombar com a sua canastra, não conseguia evitar uma lágrima rebelde que lhe corria pela cara!
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