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I – Os primeiros passos da Phylarmonia Ilhavense
Em 1836, nasce em Ílhavo a Phylarmonia Ilhavense, por iniciativa do magistrado António José da Rocha e do conselheiro José Ferreira da Cunha e Sousa, o qual, mais tarde, viria a ser Governador Civil de Aveiro. Eram amadores dramáticos e tinham organizado uma “Companhia” de curiosos que devia estrear-se num Teatro por eles construído numa dependência do Passal da freguesia, junto à igreja matriz da Ílhavo.
Para o primeiro espectáculo, convidaram a Filarmónica da Fábrica da Vista Alegre, fundada em 1826, que faltou, à última hora, por imposição do director daquela fábrica, que era de política contrária à dos organizadores.
Magoados com tal procedimento, aqueles ilhavenses encheram-se de brios e fundaram uma banda de música, tendo convidado para a dirigir José Vicente Soares, ex-regente de Bandas Militares, e, curiosamente, o primeiro regente da Banda da Vista Alegre. Depois deste, a Phylarmonia teve vários directores artísticos, nomeadamente Francisco dos Santos Barreto, que ocupou o cargo por mais tempo. Com a sua morte, a banda decaiu bastante, quase se extinguindo.
Em 1885, porém, passou a ser dirigida por João Conceição Barreto, o qual contribuiu para novo baptismo da banda, que passou a designar-se por Sociedade Filarmónica Ilhavense. Adoptou nessa altura o cognome de Música Velha. Outros regentes se lhe seguiram.
O padre João Rodrigues Franco, de Vagos, violinista distinto, acabou por abandonar a direcção artística da Filarmónica, por razões de saúde, não sem antes ter dado o seu melhor, no sentido de dotar a Filarmónica de uma organização capaz de lhe imprimir mais dignidade artística. Foi substituído por um espanhol, de apelido Serrano, imigrado político que vivia em Aveiro, que soube dar à banda uma modelar organização artística.
Depois deste, vários regentes dirigiram a Sociedade Filarmónica Ilhavense. Manuel Procópio de Carvalho foi um deles. Contudo, com a sua saída inesperada, foi convidado para o cargo o ilhavense Diniz Gomes, que lhe imprimiu um bom nível artístico, tendo mesmo, mercê da posição política que exercia no concelho, adquirido subsídios para aquisição do instrumental. Com a saída deste regente, veio João da Rocha Carola, que muito contribuiu para que a banda pudesse executar brilhantes concertos, vocais e instrumentais, inclusive em serviços religiosos, muito em voga nessa época, e em festas diversas, um pouco por todo o lado.
Marco Catarino, de Ílhavo, foi também regente, embora por pouco tempo, sendo substituído pelo seu conterrâneo Armando da Silva. No tempo deste regente, a Sociedade Filarmónica Ilhavense passou a denominar-se Associação Musical Filarmónica Ilhavense, tendo sido feito o seu registo no Governo Civil de Aveiro em 24 de Maio de 1934, conforme a Lei das Associações, datada de 14 de Fevereiro de 1907.
Com a saída deste último regente, foi o cargo ocupado pelo Ilhavense João Marques Ramalheira, mais conhecido por professor Guilhermino, que, devido ao facto de ser professor do Ensino Primário, conseguiu muitos e bons aprendizes, chegando a banda, no seu tempo, a ter cerca de 50 executantes.
Após a saída do professor Guilhermino Ramalheira, foi a regência assegurada pelo executante João Parada dos Santos (Balacó), de Vale de Ílhavo, que, por motivos de doença, não pôde dar à banda todo o tempo necessário. Por essa razão, e porque, aquando da saída do professor Guilhermino Ramalheira, ficara sem alguns dos seus melhores executantes, a Filarmónica Ilhavense decaiu um tanto.
Em 1956, mestre José Vidal, de Vale de Ílhavo, assume a regência da Filarmónica, melhorando de forma significativa a afinação da banda, ao mesmo tempo que proporciona aos seus executantes a autoconfiança que já lhes ia faltando.
Em 1961, José Vidal foi substituído por Manuel da Graça, também de Vale de Ílhavo. Este regente soube aproveitar o que mestre Vidal lhe deixara e conseguiu, graças ao seu apego ao trabalho, que a Filarmónica chegasse a ter 38 executantes. Mas o destino não era favorável a esta secular colectividade, e, em 1967, este lutador sucumbiu a uma doença grave, que lhe roubou a vida, num Sanatório do Caramulo.
Foi convidado, então, para a regência, José Venâncio, de Vagos, músico excelente da Banda da Vista Alegre, que, nos cinco meses que ensaiou a Filarmónica Ilhavense, conseguiu dar-lhe uma boa afinação, aperfeiçoando muito a parte técnica e artística. Emigrou para os Estados Unidos da América, não podendo, por isso, continuar o bom trabalho que tinha iniciado, com muito entusiasmo.
Sucedeu-lhe um executante e solista (fliscorne) José Ferreira Balseiro, da Quinta do Picado. Este reorganizou a banda, mas nela permaneceu por muito pouco tempo. O infortúnio pairava sobre a Música Velha de Ílhavo, tendo, com a saída deste último regente, em 1970, ocupado o cargo João da Fonseca, de Ílhavo. O desânimo começou a reinar nesta Sociedade Musical. Cada vez saíam mais executantes, a banda não se renovava, porque não tinha aprendizes, e em Fevereiro de 1972 esta “nau” fica novamente à deriva, sem timoneiro, isto é, sem o seu regente.
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